A Nadadora

 

A Nadadora.

De repente um grito.

Um corpo passa próximo ao ancoradouro. Uma mulher jovem, completamente nua, vem sendo trazida pela correnteza, boiando, nem na superfície, nem tão fundo que não pudesse ser resgatada pelos homens que ali estavam.

A moça resgatada, morta, de beleza singular, nua, corpo perfeito, sem sequer um arranhão, nenhuma marca visível de agressão.

Chama-se a polícia.

A polícia chega sonolenta, como se fosse um fato extremamente comum, uma jovem aparecer assim morta, naquela região.

Um policial, que aparenta ser o superior daquela equipe, fala alguma coisa, para os outros dois.

Descobrem o corpo e verificam os ouvidos, o nariz e a boca.

Cochicham entre si e informam que terão que chamar a perícia técnica.

....

Um grupo de cinco jovens, divididos em dois casais, Ellen e seu namorado, que tentavam reatar momentos mais amorosos do passado, um amigo do namorado de Ellen, sua namorada e uma outra moça, haviam chegado a pouco.

O sol começava a se pôr, conferindo ao lago um dourado maravilhoso.

A polícia chama a perícia técnica.

O interrogatório da polícia foi simples e rápido.

Basicamente se conheciam a moça, e em caso positivo qual era o relacionamento.

Ninguém conhecia.

A polícia claramente não gosta das respostas obtidas.

A perícia técnica Informa, via rádio, que demoraria, pois estava atendendo a outro caso.

Cerca de duas a três horas. O suficiente para anoitecer.

Anoitece e a noite vem acompanhada de um vento gelado.

Chega a perícia técnica.

Alguns exames e finamente, após alguns estudos, é revelada a causa provável da morte.

Um golpe dado com precisão milimétrica na base da coluna cervical, entre a terceira e quarta vértebra, provavelmente desferido por um objeto de metal, não cortante.

Acresce-se ao laudo: eximia precisão na golpe desferido.

....

Na lanchonete, com a permissão da polícia, o grupo de jovens faz um bom lanche.

Uma música gostosa de se ouvir, outros jovens, tudo absolutamente normal para uma lanchonete, a não ser pelo carro de polícia estacionado a uma certa distância, com todos os ocupantes dentro.

De volta à Pousada, o amigo do namorado de Ellen resolve ir pescar, havia ouvido dizer, não se sabe onde, que tempo frio, acrescido da agua gelada do lago, era próprio para a pesca de uma truta de sabor especialíssimo.

A moça que estava com eles resolve acompanhá-lo e leva alguns pertences do namorado de Ellen, especialmente as iscas especiais, que poderiam atrair mais peixes.

A caixa com as iscas cai na agua, nas proximidades do ancoradouro.

Local totalmente escuro.

Eximia nadadora, a moça mergulha, estabelecendo o pânico entre os presentes que aos gritos tentaram impedir a despropositada, audaciosa e destemida ação da jovem, principalmente tendo em vista o estado da água e o clima.

Reaparece alguns minutos depois um pouco longe do ancoradouro, informando que existe uma corrente subaquática, extremamente fria, entre o ancoradouro e a sua saída. Teve que usar de toda a sua habilidade para não se afogar.

Todos os hóspedes, bem como a polícia, vem atraídos pelos gritos dos pescadores.

A eximia nadadora, sai da água carregando o equipamento de pesca e uma peça de metal semelhante a um atiçador de fogo em lareiras, certamente perdido pela Pousada, e nisto, sendo rodeada de admiradores pelo ato extremamente corajoso.

A moça lança um olhar para o namorado de Ellen, que só as mulheres conseguem fazer.

Ellen nota. Olha-o também com um olhar gélido que o faz tremer mais, agora frio, um frio estranho, na barriga.

...

A polícia pede, com a educação habitual. que todos se dirijam ao salão principal da Pousada.

- Temos um suspeito... ouve-se ao longe o policial chefe falar em tom de confidencia ao chefe da perícia.

O interrogatório:

- Quem entre os presente conhece a região?

Todos os olhares se voltam para os funcionários da pousada e para os pescadores, que juntos, acenam com a mão.

- Havia outros hóspedes antes dos acontecimentos de hoje?

-Não, responde prontamente o recepcionista chefe.

Voltando-se para a eximia nadadora, o policial pergunta:

- A senhora estava acompanhada quando chegou?

 - Sim, de meus amigos, na realidade vim com eles.

-Conheceu alguém fora deste grupo aqui presente, inclusive a moça falecida?

A eximia nadadora não reponde e, com a rapidez de um raio, dirige-se à água, apesar dos gritos de pare da polícia e alguns tiros dados à esmo.

Mergulha e desaparece dos olhares de todos, possivelmente aproveitando-se da corrente subaquática – grifo retirado do relatório confidencial da polícia-.

Ellen, poderia jurar ter ouvido, um instante ínfimo antes dela sumir, as seguintes palavras: “ela era uma sereia” ....

O caso foi arquivado, após o tempo requerido.

Ellen e o namorado ainda ficaram uns dias na pousada na expectativa de reatar o romance, em vão.

Os amigos foram-se, assim que a polícia os liberou.

Não tinham nenhuma informação sobre a moça, que pegara carona, em uma parada, com destino à pousada.

Dizem que depois da saída de todos, contam que nunca houve pescadores, não havia pousada, nem lanchonete, nem lago.

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O menino e Ana Lúcia.

A Impressora.

A caixa postal.