Uma pequena reforma.

 

Quarta-feira, 08h da manhã, horário combinado com o Sr. Oto, uma certa ansiedade natural, o material todo comprado, apenas esperando o excelente Oto, para as reformas tão desejadas, se bem que não necessariamente, necessárias,

Nada. Nada do senhor Oto, 09h nada,10h nada, 11h nada, um certo desespero vai tomando conta de todos os presentes, pois os filhos tinham ido para o apartamento da mãe para presenciar aquele marco inicial.

- Liga no celular dele, diz o filho.

- Não, diz a filha, passa um Whattsapp, que certamente ele verá mais rápido, e completa, muita gente coloca no modo silencioso quando está conversando ou trabalhando.

Foram feitas as duas ações

Ambas sem nenhum efeito.

Resposta nenhuma.

O que fazer? Nada. Aguardar. Todos vão para os seus afazeres habituais, quando lá pelas 21h, toca o telefone.

- Senhora Leuqar, boa noite, aqui é o Oto, o pedreiro, a senhora me desculpe, estive preso o dia inteiro em uma outra obra, que apresentou um pequeno problema, mas que já sanamos.

- Amanhã, sem falta, estaremos ai, eu e meus dois ajudantes, para iniciar a sua reforma.

Aquele telefonema, com as informações passadas, foram como um bálsamo para a jovem senhora, tranquilizando-a, imediatamente, e permitindo, inclusive, uma bela noite de sono.

Quinta-feira, 08h, horário marcado com o Sr. Oto e seus dois ajudantes, quando toca o videofone.

Todos correm para atender.

Aparecem na minúscula tela, dois jovens simpáticos, bronzeados de sol, sorridentes:

- Bom dia, Senhora Leuqar, somos os ajudantes do senhor Oto, viemos um pouco na frente para preparar o material.

- Ah, pois não, abrirei a portaria, e os senhores podem entrar o apto já sabem qual e podem utilizar qualquer um dos elevadores, tanto os sociais, como o de serviço.

-Apenas conferindo, os senhores estão com algum material, ferramenta, ou outro instrumento necessário?

- Não senhora, o senhor Oto trará todo o material necessário.

- Ah, ótimo!

Os rapazes são donos de uma boa conversa e logo se enturmam com os moradores, pensam eles, que todos são moradores.

Conversa vai, conversa vem, o tempo passa, e nada do senhor Oto aparecer.

Lá pelas 12h, os filhos já tendo saído para cuidar de seus negócios, a Senhora Leuqar, já avisou a universidade, que provavelmente não iria, posto que uma obra em casa.

Os rapazes com fome, a Sra. Leuqar sem a mínima vontade de preparar nada, pergunta educadamente aos jovens:

- Os senhores estão com fome?

- Sim senhora, trouxemos um lanche, mas estamos reservando para a parte da tarde.

- Bom, eu não vou cozinhar nada, e logo aqui saindo do prédio, dentro do condomínio, tem uma lanchonete de boa qualidade, assim, aconselho-os a irem até lá e lanchar.

- Bem, quase que encabulados, os rapazes explicam que só tem o dinheiro da condução para voltar para casa.

Prontamente a Sra. Leuqar oferece algum dinheiro e eles vão com a fome de um pedreiro, com o perdão, do infame trocadilho em direção à lanchonete, enquanto ela prepara uma salada simples, com um filé de pescada, que apareceu na geladeira.

- 15h0, nada do senhor Oto, os dois rapazes também, confortáveis no terraço apreciando a vista e contando casos, sem fazer absolutamente nada.

Finalmente chega a noite. Os rapazes vão embora. O senhor Oto, não dá a mínima satisfação.

Sequer liga mais tarde.

Nesta noite a Sra. Leuqar não dormiu um minuto.

....

Voltando a alguns dias atrás….

Aparentemente a reforma era simples, concluiu o Senhor Oto, pedreiro renomado no local, altamente recomendado por sua experiência em reformas de apartamentos, casas e outros.

- Ah sim! Disse-lhe Leuqar, uma jovem senhora, vaidosa, bonita e proprietária de um belíssimo apartamento em um condomínio de luxo, desses que tem de tudo, e além de tudo, tem também o inimaginável, como por exemplo, uma posta de esqui na neve, sob uma temperatura média de 28° Celsius, nem tão quente, entretanto totalmente inapropriada para uma pista de esqui.

-Sr Oto, o senhor estima em quanto tempo a duração total da reforma?

- Sra. Leuqar, considerando dois banheiros, cozinha e sala; com o material já disponível, não passa de uma semana.

- Acrescento que precisarei, provavelmente, de dois ajudantes.

- Certo, Sr. Oto, respondeu-lhe Leuqar. Começamos quando?

- A senhora teria o material para que dia?

- Certamente para depois de amanhã, o que ocorrerá em uma quarta-feira.

- O Senhor acha possível começar na quarta?

- Certamente, e, completou o Sr. Oto, começando na quarta, certamente “estarei entregando” o serviços completo no mais tardar na sexta-feira da próxima semana.

- A senhora pode até pensar em convidar uns amigos para um pequeno encontro informal.

A ideia lhe pareceu ótima, alguns amigos e amigas da universidade que um estreitamento de relações seria perfeito, bem como alguns amigos e amigas do condomínio.

Já imaginando, Leuqar, perguntou, incisiva ao Sr. Oto.

-Posso preparar tudo para sexta, sem ser a próxima, a outra?

- Certamente senhora, disse o Sr. Oto, já se despedindo com um sorriso simpático no rosto.

.....

Vamos a algumas apresentações.

O senhor Oto já foi apresentado, com excelentes referencias, um ótimo pedreiro.

A Senhora Leuqar, simpática, inteligente, bonita e formosa era professora de Literatura em uma Universidade conceituada do país, além disso desenvolvia trabalhos comunitários cristãos na região.

Tinha dois filhos, ambos casados e com filhos, infelizmente viúva.

Assim, a Sra. Lequar era um espetáculo de pessoa e por que não de mulher. Independente, inteligente, amigável, amável, tantos os adjetivos que nos perderíamos nesta apresentação sucinta.

A origem do nome, um tanto incomum, Lequar, era na realidade uma correlação do árabe Ráhil, que significa, “uma mulher dócil”.

Entretanto os pais de Leuqar, gostavam de nomes incomuns e à partir da raiz do nome, começaram a pensar em várias possibilidades, tais como: Quarle, Lequar, entre outros mais complexos.

Até que se definiram por Leuqar, que conferia ao nome alguns aspectos interessantes, tais como o q seguido de uma vogal a, o que era totalmente incomum e até, digamos, sem muito conhecimento de causa, não utilizado em português,

O que agradou sobremaneira aos pais. E assim foi-se Leuqar, que se pronuncia “Leu + car” dando uma impressão de velocidade, de emoção a flor da pele, de intrepidez, e já vamos nós nos perdendo nos adjetivos de novo.

Então é isso. Bem compreendido, espero.

......

Sexta, Sábado, Domingo, Segunda.... nada do senhor Oto.

Os rapazes pontuais vão pontualmente às 08h, e filam o lanche da hora do almoço.

Comunicação com o Sr. Oto?

Impossível.  Número inexistente, whattsapp de outra pessoa, número ocupado, número não programado para receber ligações, enfim, uma loucura.

Exatamente o que estava acontecendo com a simpática e dócil Sra. Leuqar, loucura!

Já havia procurado o departamento jurídico da universidade, sem solução, outros pedreiros, que recusaram em função do trabalho ter sido tratado pelo senhor Oto, muito respeitado e excelente profissional.

Desmarca-se a “inauguração”.

Não é possível mais.

...

Quinta-feira, 08h, o videofone.

- Senhor Oto, murmurou a Sra. Leuqar, o senhor veio para dar início às obras?

- Certamente senhora foi o que tratamos, ou não?

- Entre, por gentileza, Sr. Oto.

Já no apartamento o Sr. Oto, explica demoradamente à senhora Leuqar os problemas que ocorreram naquele infeliz espaço de tempo, entre a conversa inicial e o dia de hoje, naquele momento.

Pergunta:

- Meus ajudantes já prepararam tudo?

- Pânico!

- Não senhor, não fizeram nada, e por uma coincidência inexplicável, estavam vindo todos esses dias e hoje não vieram ainda.

- Hum…, disse o Sr.Oto.

- Começarei os serviços.

E assim fez, trabalhando muito bem, preparou sozinho os pisos, as paredes, os novos granitos, os encanamentos, a parte elétrica, tudo, na mais perfeita ordem e limpeza.

18h o Sr. Oto, respeitosamente se despede, pede milhões de desculpas pelo ocorrido e informa que o trabalho terá uma duração um pouco mais curta do que calculado anteriormente.

Leuqar dorme como um anjo.

....

Sexta-feira, 08h, o Sr. Oto, os dois ajudantes.

Todos entram e começam a trabalhar loucamente, sem parar, em uma euforia que faria gosto a qualquer um de nós observar.

Trabalham o dia inteiro e as coisas vão tomando forma, granitos, pisos, paredes, encanamentos, alguns metais, parte elétrica.

18h0 se despedem avisando que para compensar, já que normalmente não trabalham aos sábados, viriam amanhã, para, muito possivelmente terminar os serviços.

Aquela noite de sexta-feira foi praticamente de festa entre os familiares.

.........

Sábado, 08h0, silêncio absoluto no videofone.

10h a mesma coisa.

12h a mesma coisa.

- Liga para ele mãe, diz a filha percebendo o que iria ocorrer, ou seja, obra pela metade, sem poder utilizar a parte feita e a parte desfeita, desfeita.

Nada. As mesmas mensagens desconexas do maldito telefone do Sr. Oto.

Domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado.... 08h , toca o videofone.

Simpáticos o Senhor Oto e seus ajudantes.

Entram sem dizer palavra e começam a trabalhar da mesma forma, compulsiva.

Quando se aproxima das 18h0 parece que o serviço estava pronto, tudo muito bonito, bem feito, arrumado, limpo, com um pequeno senão.

- Sra. Leuqar, infelizmente a Sra. não poderá utilizar a parte hidráulica, pois é necessário e conveniente esperar-se um tempo para que as juntas se juntem, as conexões se conectem, essas coisas...

- A Sra. entende?

- Infelizmente Sr. Oto entendo, ou tento entender.

- A Sra. me desculpe a indiscrição, mas o serviço praticamente terminado a senhora poderia nos pagar o que foi combinado.

- Prontamente, apesar de tudo, a Sra. Leuqar cumpre o combinado, pagando o acertado em dinheiro vivo, que já havia separado para esta finalidade, e pergunta:

- Certamente o senhor voltará para os últimos retoques e a verificação final, não é?

- Certamente senhora, na segunda-feira, pontualmente às 08h, estarei aqui, para verificarmos em conjunto e fazermos a entrega oficial dos serviços.

Nunca mais apareceu.

Exausta daquela situação procurou um outro pedreiro para verificar o serviços.

O diagnóstico era que poucas coisas deveriam ser refeitas, problemas de juntas e conexões, bem como alguns desníveis no piso e no granito principal da sala.

Coisa de poucas semanas de trabalho.

A Sra. Leuqar mudou-se para um lugar indefinido.

E, ainda, pacientemente a Sra. Leuqar espera até hoje, neste momento em que estou lhe contando este fato, um comunicado sobre o aparecimento de um pedreiro para os concertos necessários.

Comentários

  1. Excelente conto, Edu 👏🏻👏🏻👏🏻
    Sua narrativa flui com tanta espontaneidade, que o fluxo de consciência dos personagens são incorporados à leitura. O flashback é feito no momento certo do texto. Tive pena da Sra Leugar 😊
    Parabéns, meu querido escritor
    Seu conto é muito agradável de se ler. Abraços 💖

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  2. Excelente conto, Edu 👏🏻👏🏻👏🏻
    Sua narrativa flui com tanta espontaneidade, que o fluxo de consciência dos personagens são incorporados à leitura. O flashback é feito no momento certo do texto. Tive pena da Sra Leugar 😊
    Parabéns, meu querido escritor
    Seu conto é muito agradável de se ler. Abraços 💖

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  3. Ah querida Raquel, como sempre seus comentários são um estimulo para que escrevamos mais e mais.
    Quanto à reforma, é inevitável.
    É sempre assim. Nos meus primeiros anos de Engenheiro participei de algumas obras.
    Socorro.
    Beijos de gratidão minha querida.

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  4. Ainda, se quiser publicar qualquer coisa aqui esteja a vontade. A ideia é termos um blog aberto para quem quiser publicar.
    Beijos e carinhos.

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