Pequenos agrados.

 

Queria a “qualquer preço” fazer a sua mulher feliz.

Não media esforços para isto.

Trabalhava como empregado em uma lanchonete de trailer.

Mas se esforçava e as vezes pegava um bico ou outro para arrumar mais dinheiro, com uma única finalidade, que já sabemos.

Deixar sua mulher feliz.

Ocorre que os agrados que fazia à mulher eram destinados na realidade a ele próprio, como por exemplo, levava para ela uma sandália nitidamente masculina, que ela não usava, e portanto ele acabava por usar, entre outras coisas na mesma linha.

Ela começou a tomar uma certa antipatia dele e de suas manias, que se resumiam sempre às mesmas coisas, além dos falsos “agrados”.

Fazendo com que a vida dela fosse uma repetição constante.

Sempre a mesma coisa. Bifes com batata rústica e arroz com alecrim.

Um dia não era em nada diferente do outro.

Exausto, lhe dava o “agrado”, jantava, assistia um pouco de TV e desmaiava na cama.

Ela ficava olhando e custava a dormir, ele roncando.

Começou a imaginar coisas durante as madrugadas insones.

E se ela o sufocasse com o travesseiro.

E se ela lhe desse um chá de Abrus precatorius L, bem disfarçada com açúcar e com limão.

Imagino eu que o leitor não tenha a menor ideia do que se trata.

Explico: É uma planta que se ingerida causa morte em pouco tempo por impedir a circulação do sangue, através de coágulos, o que não vem ao caso.

O fato era que essas ideias iam se tornando obsessivas e constantes.

Era provocado pela constante e maçante rotina a que ele a impunha.

Ela era uma mulher séria e não tinha amantes, nem a pretensão de tê-los, como a fértil imaginação do leitor pode estar tramando.

....

Passaram-se alguns meses.

Ela não o suportava mais.

Preparou o chá.

Esperou ele chegar.

Ele chegou.

Jantou o mesmo prato de sempre. Assistiu um pouco de TV com ela. Já se preparava para dormir.

Quando se lembrou do “agrado”, que neste dia, era um gigantesco bife, alguns quilos de batata e um pouco de alecrim.

Ela, gentilmente, o convidou para tomar o chá que era uma maravilha, uma delícia, que uma vizinha bondosa havia lhe ensinado.

Ele, pensando em um “agrado” adicional não tomou o chá, e trocou o chá de alecrim que ela sempre tomava por aquele delicioso chá que ela havia preparado.

Dormiu contente.

Na manhã seguinte, ela morta ao seu lado na cama.

Foi preso por assassinato, após os tramites policiais de praxe.

O laudo policial indicava envenenamento.

Comentários

  1. Quando a esmola é grande o santo desconfia. Mas quando a santa é boba e atrasada, tem esse final infeliz. Poderia ter "temperado' um belo bife para esse "maravilhoso" marido.

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  2. Querida Léa, feliz pela sua visita e pelo seu comentário.
    Um pequeno engano às vezes pode ser fatal.
    Penso , conhecendo o nosso protagonista que não foi proposital. Foi um descuido e um excesso de zelo.
    Abraços e beijos.

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